Mensagem especial de fim de ano com André Mantovanni [2014]

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Mensagem especial de fim de ano compartilhada por André Mantovanni (www.andremantovanni.com.br).

Profa. Dra. Cris Torres: “Encontrei com ele pela primeira vez ali, no palco. Ensaiava versos de Fernando Pessoa para o Sarau de logo mais. As mãos dançavam feito quem tocasse antigas harpas, alaúdes talvez – mais tarde entendi que tocavam flechas e arcos. Perguntei-lhe o nome: Andre. Os olhos apresentaram-se com águas para mim conhecidas – as de um rio português habitado por naus, ninfas, poemas… O Tejo que para ele era também de todos os deuses, de todos os santos.

Deixei-o ali, no palco. As mãos em cena de algum modo me incomodavam… atravessando as luzes da arena insistiam em me encontrar, seguiam meus passos, tocavam minha pressa – finalmente me interromperam. Parei frente a ele, o moço de camisa branca e olhos de rio. Olhei suas mãos e entendi – elas compunham outros versos, de um outro tempo – a sombra de seus gestos fiava um imenso bordado que trazia meninos, deuses, malabaristas, folhagens, marés, búzios, ventanias, atabaques, orações, silêncios.

Quando André terminou de ensaiar, perguntei o que ele fazia. Minha profissão? Perguntou-me. Sim. Mas antes que ele me respondesse eu o interrompi com um gesto de silêncio. O imenso bordado que ele fiara contava-me segredos. Contava-me, sobretudo, sua fé. Fios azuis muito claros teciam os gestos de Oxossi feito manto largo que se derramava sobre as matas. Fios dourados das águas de sua mãe Oxum costuravam-se a filigranas de cartas tocadas com cuidado, tarôs, números, conchas. Eu não conhecia André até ali. Não sabia de sua espiritualidade, de seus tantos livros publicados (mais de 18!) sobre numerologia, candomblé, espiritualidade, vida tecida entre o que os orixás, a fé e a ancestralidade nos contam. André olhava-me curioso (teria sido ali que nos tornamos cúmplices de tantos silêncios?), talvez ele soubesse que eu estava ouvindo seu bordado a cantar poesia como forma de oração. Mais tarde ainda entendi que para André a arte e a fé eram seus lugares de descanso… e de trabalho –era também escritor e publicara livros de poesia e contos.

André arrumou seus papéis e livros, desligou o microfone. Eu agradeci a ele pela leitura. Enquanto ele seguia, continuei a olhar suas mãos, que derramavam por tudo sua renda, senda de um rio distante.

André Mantovanni é autor de mais de 20 livros voltados para o autoconhecimento. Já escreveu poesias no livro Mar de Mim e contos em “O Acontecer das Coisas”. Espiritualista, filho de Oxossi, Mestre em Literatura e Crítica literária (PUC – SP), profundo conhecedor de tarô, búzios e numerologia. Prepara com dedicação e cuidado sua casa de Candomblé, no interior de São Paulo, na cidade de Vargem Grande Paulista. Apresenta semanalmente, nas manhãs da TV Gazeta, o quadro Revista Alto Astral no programa Revista da Cidade e, na web, apresenta o programa UOL Astral, na TV UOL. É um leitor apaixonado de Fernando Pessoa, Manoel de Barros e Clarice Lispector e dos cantos de Dna. Maria – como gosta de chamar Maria Bethânia, sua intérprete predileta.”

Profa. Dra. Cris Torres
Professora na PUC-SP (Pós-Graduação em Literatura Brasileira)
Doutora em Literatura Brasileira – USP
Mestre em Literatura e Crítica Literária – PUC/SP
São Paulo, Inverno de 2014